O ano de 2026 não é apenas o início de uma nova fase tributária: é o marco que separa empresas preparadas daquelas que descobrirão, tarde demais, que a Reforma Tributária exige muito mais do que simples ajustes de software.
Com a Lei Complementar 214/2025 sancionada em janeiro e o PLP 108/2024 aprovado no Senado em setembro, as regras estão definidas.
Mas enquanto muitos focam no óbvio (atualizar ERP, entender CBS e IBS), poucos percebem as implicações estratégicas que podem definir vencedores e perdedores nos próximos anos.
Este checklist vai além das listas convencionais.
Aqui, exploramos os pontos críticos que o mercado ainda não está discutindo amplamente — aqueles cruzamentos de dados e insights que podem transformar uma obrigação legal em vantagem competitiva.
1. O “Float Financeiro” Está Morrendo: Você Mapeou o Impacto Real no Seu Caixa?
O que poucos percebem: A maioria das empresas trata o Split Payment como uma questão tecnológica.
Mas a verdadeira revolução está na morte do chamado “float financeiro”, aquele período entre receber o dinheiro da venda e pagar o imposto, que muitas empresas usam como capital de giro informal.
Checklist de ação:
- Calcule quanto do seu capital de giro atual depende do float tributário — Pegue os valores médios de tributos recolhidos mensalmente e o prazo médio de pagamento. Essa é a “gordura” que vai desaparecer em 2027 (quando o Split Payment se torna obrigatório no varejo).
- Simule o fluxo de caixa em três cenários: (a) Split Payment em 100% das vendas no cartão/Pix, (b) Split em 70% das vendas, ( c) Split gradual até 2029. A Receita Federal confirmou que o sistema será facultativo em 2027 para B2B, mas obrigatório no varejo — você sabe qual é o seu mix de canais?
- Identifique se você precisará de nova linha de crédito — Se sua empresa opera com margens apertadas e depende desse “colchão”, 2026 é o ano para renegociar linhas de crédito. Bancos ainda não precificaram esse risco adequadamente.
- Reavalie contratos de longo prazo — Contratos fechados antes de 2026 que dependiam do float para honrar pagamentos podem virar passivos. Revise cláusulas e antecipe renegociações.
Insight crucial: Segundo dados da Receita Federal apresentados em evento da Casa JOTA, o split payment não gerará cobrança efetiva em 2026, mas será implementado a partir de 2027, de forma facultativa e gradual. Quem usar esse ano de 2026 apenas para “testar sistemas” está perdendo a janela para ajustar estruturalmente o caixa.
2. O Cadastro de Produtos É Seu Novo Ativo Estratégico (E Você Provavelmente Está Subestimando Isso)
O que poucos percebem: A Reforma exige um nível de granularidade no cadastro de produtos que vai muito além do que existe hoje.
Não é apenas “NCM correto”: é a vinculação precisa entre produto, regime tributário, direito a crédito, alíquotas diferenciadas e cashback.
Checklist de ação:
- Audite 100% do cadastro de produtos/serviços — Verifique se cada item tem: NCM atualizado, CEST (quando aplicável), classificação de serviço, identificação de regime especial/diferenciado. A Reforma criou mais de 15 regimes diferenciados — seu cadastro reflete isso?
- Mapeie produtos com direito a redução de 60% — A LC 214/2025 estabelece redução de 60% para diversos produtos de saúde, educação e alimentação não incluídos na cesta básica. Isso afeta sua precificação?
- Identifique produtos sujeitos ao Imposto Seletivo (IS) — Veículos, bebidas alcoólicas, cigarros, produtos com alto teor de açúcar, mineração. O IS incide ALÉM do IBS/CBS. Se você comercializa esses itens, a tributação pode subir significativamente.
- Crie um “dicionário tributário” interno — Com a transição que vai até 2033, você precisará de um sistema que entenda simultaneamente as regras antigas (ICMS/ISS/PIS/COFINS) E as novas (CBS/IBS). Esse mapeamento dual é complexo e poucos estão começando agora.
- Prepare-se para as 200+ novas campos da NF-e — Especialistas alertam que as notas fiscais de fornecedores virão com cerca de 200 novos campos e sistemas de gestão precisarão ler e validar essas informações. Seu ERP está pronto para processar notas de entrada com essa complexidade?
Insight crucial: A Receita Federal afirma que, uma vez feita a “amarração” do produto no sistema, ele será reconhecido automaticamente nas vendas. Mas empresas com milhares de SKUs precisam começar essa catalogação AGORA — não em dezembro de 2025.
3. O Cashback Não É Só Problema do Governo: É Oportunidade de Mercado (Se Você Souber Usar)
O que poucos percebem: O cashback para famílias de baixa renda (CadÚnico, renda até meio salário mínimo) começa em 2027 para CBS e 2029 para IBS. A maioria das empresas vê isso como “problema do fisco”.
Mas quem entender o mecanismo pode criar programas de fidelização e comunicação que convertem esse benefício em vantagem competitiva.
Checklist de ação:
- Calcule quanto do seu público se qualifica para cashback — Se você atende classes C, D e E, uma parcela significativa dos seus clientes receberá devolução de 100% da CBS (e 20% do IBS mínimo) em energia, água, gás, telefonia e internet. Para outros produtos, 20% de devolução.
- Comunique o benefício na precificação — Imagine um varejista que vende botijão de gás. Em vez de comunicar apenas o preço, poderia destacar: “Famílias do CadÚnico: você receberá de volta 100% do imposto federal dessa compra”. Isso é marketing baseado em política pública.
- Incentive o CPF na nota — O cashback só funciona se o CPF estiver na nota fiscal. O mecanismo depende da confrontação do CPF na nota fiscal, o valor da compra e o registro no CadÚnico. Empresas que criarem campanhas educativas agora (“Peça CPF na nota e receba seu dinheiro de volta”) estarão à frente.
- Prepare equipes de atendimento — Treine vendedores, caixas e atendentes para explicar o cashback. Isso gera empatia e conexão com o público de menor renda.
- Explore parcerias locais — Estados e municípios podem elevar a devolução do IBS acima dos 20% mínimos. Isso significa que programas estaduais/municipais podem ser lançados. Fique atento e articule-se com associações comerciais.
Insight crucial: O Rio Grande do Sul já opera o “Devolve ICMS” desde 2021, e dados mostram que famílias que ganham até um salário mínimo têm 50% de redução da carga de ICMS, caindo de 10,4% para 5,2% com o cashback.
4. A Transição de 7 Anos Pode Ser uma Armadilha Operacional (Não Apenas Fiscal)
O que poucos percebem: Entre 2027 e 2033, seu sistema precisará calcular tributos em DOIS regimes simultaneamente: o antigo (ICMS, ISS, PIS, COFINS) em alíquotas decrescentes, e o novo (CBS, IBS) em alíquotas crescentes.
Isso não é “uma” transição: são seis transições anuais, cada uma com regras diferentes.
Checklist de ação:
- Mapeie a curva de transição específica do seu setor — A CBS entra com alíquota cheia em 2027. O IBS entra gradualmente a partir de 2029. Setores com regimes especiais têm cronogramas distintos. Você tem clareza sobre o seu?
- Simule o “pior cenário tributário” — Em alguns anos da transição, a soma dos tributos antigos + novos pode ser MAIOR que a carga atual, mesmo que no final seja menor. Identifique esses anos críticos.
- Revise todos os contratos de fornecimento e venda — Cláusulas de reajuste baseadas em “tributos vigentes” podem gerar litígios. Durante a transição, qual será o parâmetro? O contrato está claro?
- Prepare-se para dupla escrituração fiscal — Você precisará apurar créditos e débitos em dois sistemas paralelos. Isso dobra a complexidade das obrigações acessórias. Seu time fiscal está dimensionado para isso?
- Monitore as “calibragens” da alíquota de referência — O Senado alterou a base de cálculo da alíquota do IBS para usar dados de 2024 a 2026 (em vez de 2012 a 2021), com calibragem gradual entre 2029 e 2032 para evitar impactos bruscos. Acompanhe essas definições — elas impactam diretamente sua projeção de custo.
Insight crucial: Empresas que tratam 2026 apenas como “ano de testes” estão ignorando que ele é o ÚLTIMO ano antes de mudanças efetivas no bolso. Use-o para criar memória de cálculo, treinar equipes e validar premissas, não apenas para “emitir nota de teste”.
5. A Governança Tributária Mudou: O Comitê Gestor do IBS É Inédito no Mundo
O que poucos percebem: O IBS não será administrado pela Receita Federal, nem pelos estados ou municípios isoladamente.
Será gerido por um Comitê Gestor (CGIBS) — uma entidade pública de caráter especial, com governança compartilhada entre União, estados e municípios. Isso é inédito globalmente e cria incertezas operacionais.
Checklist de ação:
- Acompanhe a estruturação do CGIBS — O comitê temporário criado pela LC 214/2025 vale até dezembro de 2025. O definitivo será criado pelo PLP 108/2024, aprovado no Senado mas ainda pendente na Câmara. Fique atento às definições de competência, sede, sistemas e processos.
- Mapeie onde buscar orientações — Hoje, você consulta a Receita Federal, a SEFAZ do seu estado, a Prefeitura. Amanhã, para o IBS, será o CGIBS. Para a CBS, ainda a Receita. Crie um fluxograma interno de “quem consultar sobre o quê”.
- Prepare-se para decisões descentralizadas — A Câmara Nacional de Integração do Contencioso Administrativo será criada para harmonizar a jurisprudência fiscal envolvendo IBS e CBS. Litígios tributários terão um novo formato — sua assessoria jurídica está atualizada?
- Participe de consultas públicas e fóruns setoriais — O CGIBS precisará construir normas infralegais. Empresas e entidades de classe que se envolverem agora terão mais voz na regulamentação.
Insight crucial: Esta é a PRIMEIRA reforma tributária feita em regime democrático no Brasil, como destacou o senador Eduardo Braga. Isso significa que há espaço real para construção coletiva — mas apenas para quem estiver atento e engajado.
6. A Tecnologia É Condição de Existência, Não Diferencial Competitivo
O que poucos percebem: Há uma ilusão de que “investir em ERP moderno” é vantagem competitiva. Na Reforma Tributária, não é — é condição de sobrevivência. Quem não tiver sistemas integrados, automatizados e preparados para a complexidade da transição simplesmente não conseguirá operar.
Checklist de ação:
- Avalie se seu ERP está na lista de fornecedores parceiros da Receita — A Receita está desenvolvendo o sistema em parceria com empresas de software. Até o momento, 47 das 66 empresas convidadas confirmaram participação no projeto-piloto da CBS. Seu fornecedor está nessa lista?
- Exija roadmap detalhado do fornecedor — Não basta dizer “estaremos prontos”. Peça cronograma de releases, funcionalidades, testes, homologações. Cobre SLA (acordo de nível de serviço) para correções.
- Teste a integração entre módulos — A Reforma exige que fiscal, financeiro, contábil e comercial “conversem” em tempo real. Sem integração, as chances de erro, retrabalho e autuações fiscais aumentam.
- Valide a capacidade de processamento — O volume de dados fiscais vai explodir. Seu sistema aguenta processar notas com 200+ campos, calcular créditos complexos e gerar declarações simultâneas em dois regimes?
- Crie um plano B — E se seu fornecedor de ERP não entregar? Mapeie alternativas, tenha backups, considere soluções de contingência. Não coloque todos os ovos na mesma cesta tecnológica.
Insight crucial: A plataforma nacional que estrutura o Split Payment será 150 vezes maior que o PIB brasileiro em volume de transações processadas. É a maior infraestrutura tecnológica fiscal já criada no mundo. Se você acha que isso não exige preparação extrema, está subestimando o desafio.
7. Precificação e Margens: O Jogo Mudou (E Poucos Estão Recalculando)
O que poucos percebem: A mudança de tributação na origem para tributação no destino elimina vantagens fiscais regionais.
Aquela empresa que tinha sede em estado com benefício fiscal? Vai perder essa vantagem. Aquela que pagava ISS em município com alíquota menor? Também.
Checklist de ação:
- Recalcule toda a sua estrutura de preços — Produto por produto, serviço por serviço. A alíquota de referência projetada é entre 26,5% e 28% (IBS + CBS somados). Como isso se compara à sua carga atual?
- Identifique produtos que ficarão mais caros — Setores com regimes especiais ou que perdiam benefícios fiscais terão aumento real. Comunicação tem redução de 60%, mas e os demais serviços?
- Identifique produtos que ficarão mais baratos — Produtos da cesta básica (alíquota zero), produtos com redução de 60%, setores que hoje sofrem com cumulatividade de tributos. Há oportunidades de ganho de margem?
- Revise estratégia de localização — Se você escolheu sua sede por benefício fiscal que deixará de existir, talvez faça sentido repensar. Ou, ao contrário, se você paga caro hoje em estado com ICMS alto, pode ganhar competitividade.
- Simule cenários setoriais — Estudos apontam que no cenário conservador, todos os setores seriam beneficiados: agro (+10,6%), indústria (+16,6%) e serviços (+10,1%). Mas isso é MÉDIA — seu negócio específico pode ter resultado muito diferente.
Insight crucial: A Reforma não muda a carga tributária TOTAL como proporção do PIB — mas redistribui essa carga entre setores, regiões e cadeias produtivas. Você pode estar do lado que ganha ou do lado que perde. Saber disso agora é estratégico.
8. Cultura Organizacional e Capacitação: O Elo Mais Fraco
O que poucos percebem: Você pode ter o melhor ERP do mercado, mas se sua equipe não entende a lógica da Reforma, os erros acontecerão. E no ambiente de dupla tributação da transição, erros custam MUITO caro.
Checklist de ação:
- Crie um “Comitê de Reforma Tributária” multidisciplinar — Não é só o fiscal. Envolva financeiro, comercial, jurídico, TI, compras. A Reforma impacta TODOS os departamentos.
- Invista em treinamento intensivo — Imersão real: simulações práticas, estudos de caso, exercícios de precificação, testes de sistemas. Considere trazer consultorias especializadas.
- Documente TUDO — Crie manuais internos, fluxogramas, políticas tributárias documentadas. No futuro, você precisará comprovar ao fisco que tomou decisões embasadas. Memória documental é essencial.
- Monitore atualizações normativas — A Reforma ainda terá dezenas de normas infralegais, portarias, instruções normativas. Defina quem será responsável por monitorar e comunicar mudanças internamente.
- Teste, teste, teste — Use 2026 para fazer simulações reais. Emita notas de teste, calcule tributos, apure créditos, gere relatórios. Erro em 2026 não custa dinheiro — erro em 2027 custa muito.
Insight crucial: A complexidade da Reforma é equivalente à implantação da NFe em 2006 — mas multiplicada por 10. Quem viveu aquela transição sabe: tecnologia é 40% do desafio; pessoas e processos são os outros 60%.
2026 é o Ano Mais Importante da Década
A Reforma Tributária é um processo. Mas 2026 é único: é o último ano antes do jogo mudar de verdade. É o ano de testar sem custo, preparar sem pressão, aprender sem penalidades.
As empresas que tratarem 2026 como “mais um ano” chegarão em 2027 atropeladas, reagindo a problemas em vez de antecipando soluções.
As que usarem este checklist como ponto de partida e mergulharem fundo nas nuances estratégicas da Reforma, estarão posicionadas para transformar uma das maiores mudanças legislativas da história brasileira em vantagem competitiva.
O checklist acima foi desenhado para fazer você pensar em coisas que seus concorrentes ainda não estão pensando. Porque no final, a Reforma será igual para todos: mas a preparação, não.
A Solutta está ao seu lado nessa jornada. Entre em contato e descubra como podemos ajudar sua empresa a transformar a complexidade tributária em clareza estratégica.